A falta de representatividade feminina nas listas de obras obrigatórias

A falta de representatividade feminina nas listas de obras obrigatórias | Guia do Estudante

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 (thomaguery/iStock)

Em março de 2017, a livraria Loganberry Books, em Cleveland (EUA), virou as lombadas dos livros escritos por homens para dentro das estantes. Eram a maioria esmagadora. A reorganização das prateleiras deixou bem claro a desigualdade de gênero na literatura. Quantos são os livros escritos por mulheres que você já leu? Provavelmente esse número será muito menor se comparado ao de autores homens.

Mais um indício dessa disparidade, que cerca o meio acadêmico, está logo no vestibular. As listas de leituras obrigatórias fortalecem a marginalidade das mulheres no mundo da escrita. Das nove obras cobradas pela Fuvest 2021, apenas uma é de autoria de uma mulher: Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles.

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O histórico é ainda pior. Entre 2010 e 2017, a lista de obras obrigatórias trazia apenas autores homens. Só em 2018 entrou a autora Helena Morley, com Minha Vida de Menina. Dessa forma, grandes autoras como Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Pagu e Carolina Maria de Jesus recebem menos atenção nas salas de aula de Ensino Médio e vão deixando de ser conhecidas como parte da trajetória cultural brasileira.

Em 2019, estudantes do Ensino Médio da Escola Nossa Senhora das Graças, de São Paulo (SP), criaram um abaixo-assinado para exigir maior representatividade feminina na lista de obras literárias de leitura obrigatória no vestibular da USP.

A petição “Queremos mais autoras mulheres na lista de livros obrigatórios da Fuvest!”, na plataforma Change.org, bateu a meta de 5 mil e ultrapassou as 9 mil assinaturas. No texto, as garotas ainda sugerem algumas obras para acrescentar ao vestibular – como  Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, e Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, de Carolina Maria de Jesus (presente na lista da Unicamp em 2021).

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Fuvest e Unicamp 2021

Juntos, os vestibulares de Unicamp e USP somam apenas cinco obras obrigatórias escritas por mulheres neste ano. Como já dito, Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, é o único que cai na Fuvest. Na lista da Universidade de Campinas estão: Ana Cristina Cesar, com A Teus Pés, Lygia Fagundes Telles, com O Seminário dos Ratos e Júlia Lopes de Almeida, com A Falência, além de Carolina Maria de Jesus e seu Quarto de Despejo. Conheça um pouco sobre estas autoras: 

Cecília Meireles

Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no Rio de Janeiro, em 7 de novembro de 1901. Ficou órfã ainda criança e foi educada pela avó materna. Formou-se professora primária em 1917, dedicando-se então ao magistério. Em 1919 publicou seu primeiro livro de poesias, Espectros, de tendência parnasiana. A partir dos livros Viagem (1939) e Vaga Música (1942), Cecília alcançou a maturidade literária, inspirando-se principalmente no simbolismo.

Mas seu estilo, extremamente pessoal, não permite classificar a obra da escritora em uma escola literária específica. Lírica, intimista e mística, abordou os temas da precariedade da vida, do amor, da morte e da fugacidade do tempo. Em 1953 lançou Romanceiro da Inconfidência, um dos marcos da literatura social brasileira, no qual recria poeticamente a saga de Tiradentes e dos demais inconfidentes nas Minas Gerais do século 18. Morreu no Rio de Janeiro, em 9 de novembro de 1964.

Suas principais obras são: Espectros (1919), Viagem (1939), Vaga Música (1942), Mar Absoluto (1945), Retrato Natural (1949), Romanceiro da Inconfidência (1953), Metal Rosicler (1960), Solombra (1963) e Ou Isto ou Aquilo (1964).

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Ana Cristina Cesar

Ana Cristina Cesar (1952-1983) nasceu no Rio de Janeiro. Foi poeta, jornalista, tradutora e crítica literária. Formada em Letras pela PUC-Rio, mestre em Comunicação pela UFRJ e em Teoria e Prática de Tradução Literária pela Universidade de Essex, na Inglaterra, participou da antologia 26 Poetas Hoje (1976), organizada por Heloisa Buarque de Hollanda. 

Ela é considerada um dos nomes principais da década de 1970, na geração conhecida como mimeógrafo, e tem seu nome ligado ao movimento conhecido como Poesia Marginal. Entre suas principais obras estão: Literatura não é Documento (1980), Crítica e Tradução (1999), A teus Pés (1982), e Inéditos e Dispersos (1985).

Lygia Fagundes Telles

Lygia de Azevedo Fagundes (nome de batismo) nasceu em São Paulo, no dia 19 de abril de 1923. Estudou Direito e Educação Física antes de se dedicar exclusivamente à literatura. A escritora, que ocupa a cadeira nº 16 da Academia Brasileira de Letras, tem cerca de 80 anos de carreira.

Em 2005 recebeu o Prêmio Camões, o mais importante da literatura de língua portuguesa. Suas obras de destaque são: Ciranda de Pedra (1954), Antes do Baile Verde (1969), A Disciplina do Amor (1980), Mistérios (1981), As Horas Nuas (1989), A Noite Escura e mais Eu (1995), Pomba Enamorada, ou, Uma História de Amor: e Outros Contos Escolhidos (1999), Verão no Aquário (1964), As Meninas (1973) e Invenção e Memória (2000).

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Júlia Lopes de Almeida

Júlia Lopes de Almeida nasceu no Rio de Janeiro em 1862. Filha de portugueses emigrados, cultos e ricos, teve uma educação sofisticada e liberal. Quando jovem foi incentivada pelo pai a publicar suas primeiras crônicas no jornal local. Seu textos em jornais da época tratam sempre de temas pertinentes como a República, a abolição e direitos civis. Seu primeiro romance, Memórias de Marta, foi lançado em 1889, em São Paulo, onde na época morava com o seu marido, o poeta e jornalista português Filinto de Almeida. Júlia faleceu em 30 de maio de 1934, na sua cidade natal. Algumas de suas principais obras são: A Falência (1901), A Intrusa (1908), A Viúva Simões (1897), Ânsia Eterna (1903). 

 

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Carolina Maria de Jesus

A mineira nascida em 1914 teve uma vida difícil, com três filhos pequenos, sobrevivendo como catadora de lixo. Nas horas vagas, registrava o cotidiano da favela em cadernos que encontrava no material que recolhia.

Em 1958, foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas. Logo tornou-se uma celebridade, mas o sucesso durou pouco. Por seu talento, é considerada uma das primeiras e mais importantes escritoras brasileiras. Morreu em fevereiro de 1977, aos 62 anos, de insuficiência respiratória. Além de  Quarto de Despejo, o livro mais famoso,  Pedaços de Fome e Casa de Alvenaria são grandes obras da autora.

 

 

 

 

 

 

Fonte: guiadoestudante.abril.com.br/universidades/a-falta-de-representatividade-feminina-nas-listas-de-obras-obrigatorias

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