Dificuldade com a interpretação de texto pode atrapalhar o desempenho dos estudantes   Caderno do Enem

Dificuldade com a interpretação de texto pode atrapalhar o desempenho dos estudantes – Caderno do Enem

“Desde o ensino fundamental tenho dificuldades com interpretação de texto. Isso acontece porque sou muito ansioso. Ler sobre entretenimento tem me ajudado bastante. Tento sempre ficar calmo quando estou diante de um texto”, diz Davi Vidal, aluno do curso de jornalismo da Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora (FESJF).

Dificuldades com a leitura estão sempre presentes na vida de estudantes como Davi. Não é somente nas aulas de português que a compreensão de um texto é fundamental. Outras matérias também exigem que o aluno tenha a capacidade de entender a mensagem.

Amanda Cristina Testa Siqueira é professora de português do curso Oriente, faz mestrado em linguística e ensino na UFJF e participa de um projeto que tem como foco a falta de interesse dos alunos pela matéria de português. “Queremos descobrir o que está acontecendo, porque os alunos estão desmotivados e porque não conseguem ir bem nesta matéria”, ressalta Amanda.

Para ela, a dificuldade em interpretar textos básicos surge devido à falta de leitura. “A leitura é tudo. Nos dias de hoje, com todos os recursos da tecnologia como iPad e iPod, é muito difícil alguém querer pegar um livro para ler. Eu sempre falo para meus alunos pegarem algum texto da internet mesmo. Algo que seja do interesse deles, como quadrinhos, revista sobre carros, uma notícia. É preciso incentivar a vontade de ler, com histórias envolventes e livros fáceis”.

A mestranda destaca que a dificuldade em interpretar um texto também pode interferir no raciocínio de outras matérias. “Às vezes, o aluno não consegue resolver uma questão de matemática por não saber interpretar o enunciado. Desta forma, ele acaba se tornando um analfabeto funcional: aquela pessoa que lê, mas não processa a informação e não reflete”, diz.

Segundo a professora, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é um avanço no ensino, já que avalia a capacidade do aluno em interpretar as informações. Ela sublima, porém, que nas escolas, ainda existe a insegurança por parte dos professores em trabalhar as disciplinas de forma diferente.

“O professor tem que seguir a apostila dada pela escola. Em algumas instituições, ele não participa desta escolha e é obrigado a seguir à risca. Ele tem que ter jogo de cintura para aplicar o que está ali nas aulas. Inovar, tentando sempre dialogar com o aluno, ensinando a pensar, para que ele fique mais interessado”.

A doutora em letras e professora da Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora (FESJF), Mara Conceição Vieira de Oliveira, acredita que “ainda existem escolas onde o docente de disciplinas específicas não atua na escolha dos livros, porque a direção já “fechou” com determinada editora. Esta escolha precisa ser responsável e deve passar por um profissional especializado”. Para a professora Mara, “é grande a queixa em relação à dificuldade na interpretação. Mas é preciso ‘ensinar a ler’. É fundamental saber a diferença entre compreender e interpretar, para assimilar de forma coerente o enunciado de uma prova”.

Mara escreveu um ensaio sobre a correlação das novas tecnologias com a leitura. Neste texto, a professora reflete sobre como estas novas tecnologias podem mudar a relação com a leitura. “Não há uma proposição negativa em relação a isso, pelo contrário, trabalhamos com a perspectiva de que o interesse pela leitura nasça também do gosto. A internet é apenas um suporte e não piora a escrita e/ou leitura, ela modifica”.

Em relação às escolas, de acordo com Mara, é necessário levar em consideração as diferentes realidades. O sistema de avaliação no Brasil ainda é muito pouco formativo. É utilizada a avaliação somativa, em que o aluno faz avaliação ou trabalho visando à nota. O aprendizado, sem o interesse pela nota, não é incentivado. “O aluno ‘quer passar’, não importa se aprendeu ou não o conteúdo. A avaliação formativa se interessa pelo processo, pelo caminhar. Conheço poucas escolas que valorizam esta prática. As salas cheias, alunos sem leitura e professores sem formação continuada também não facilitam”, pontua.

Segundo a docente, o gosto pela leitura não surge na escola. “Devido às condições políticas do nosso país, os professores, mesmo tendo compromisso por uma educação de qualidade, não são responsáveis por este caos generalizado. Criança com fome, dor de dente e frio não vai se interessar por leitura, não vai nem conseguir ser alfabetizada. Esta realidade não lhe interessará, porque existe outra muito mais doída gritando dentro dela, entende? Não dá pra ser romântico. As condições são diferentes e isso influi na formação do leitor”, finaliza.

Confira também 10 dicas para aumentar sua nota no Enem!

Fonte: cadernodoenem.com.br/fique-ligado/13-08-2013/dificuldade-com-a-interpretacao-de-texto-pode-atrapalhar-o-desempenho-dos-estudantes.html

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *